Viagem para Croácia

 


Já pensou se existisse um lugar que misturasse o estilo de vida mediterrâneo, (como nas melhores paragens de Grécia, Itália e riviera francesa) com o estilo de vida centro-europeu (como em Viena, Budapeste e Praga)? Bom, esse lugar existe, e se chama Croácia.

E é assim que você tem que pensar na Croácia: o encontro de dois mundos, e dois mundos muito legais: a região costeira, banhada pelo mar Adriático, de forte influência greco-romana, e a região do interior, de forte influência austro-húngara, com toques de turcos otomanos e da antiga Iugoslávia. Dois mundos, mas um só país, uma só viagem.

E que viagem! Ninguém fala muito de Croácia mais você pode passar uma semana lá sem se cansar. Siga nossas dicas e prepare o roteiro.



Começando pelo azul do mar

 

A parte mais famosa da Croácia é sem dúvida o litoral, chamada costa da Dalmácia (sim, os cães dálmatas vieram de lá). Esse litoral é absurdamente recortado, com um sem-fim de enseadas e baías que invariavelmente se transformam em praia ou porto. Em pontos estratégicos, surgiram os povoados, que viraram cidades e hoje são atrações turísticas.

Dubrovnik é a principal atração, da costa e do país. Essa pequena cidade encarapitada entre mar e morro foi, durante séculos, uma república independente. Convivia com a Veneza de Marco Pólo, a toda-poderosa dos séculos 13, 14 e 15. Importante entreposto comercial, só perdeu fôlego quando as grandes navegações levaram o comércio para o oeste europeu.

Mas a arquitetura de Dubrovnik se manteve uma cidade murada, feita de pedra (lindíssimo limestone), lambiscada pelas ondas do mar. Claro que a cidade de hoje vai além dos muros, que servem mais que tudo para demarcar o distrito histórico e adicionar um charme incontestável à paisagem.

Andar por Dubrovnik é uma emoção diferente. Os barcos atracados no cais; as muralhas sobre as quais se caminha e se descobre rincões e ruelas; a catedral dominando a praça principal; o palácio do doge de Dubrovnik, convertido em museu; ou simplesmente o footing pela rua principal, usada democraticamente por turistas e locais, sem distinção.

Fora das muralhas estão os principais hotéis, construídos nas encostas dos morros e, por isso mesmo, com ótima vista para o mar e/ou para a cidade. Restaurantes de frutos do mar, é claro se espalham pela orla. Tome um bom vinho olhando o sol se por no adriático e sinta o estresse navegar para longe.

Subindo pela costa, rumo norte, você vai entrar numa rodovia maravilhosa, que serpenteia pelo alto das colinas e ao lado do mar, deixando ver aquelas baías e enseadas que comentamos acima. E quem fez o mundo foi tão gentil com a Croácia que estes morros tem a altura perfeita nem tão altos que nos distanciem do mar, nem tão baixos que não permitam uma visão perfeita.

Muitos ahhhs e ohhhs depois, você chegará a Ston. Um antigo porto de sal, do tempo que sal valia como dinheiro. E, por isso mesmo, a cidade possui uma muralha, construída para defender a caixa-forte salina. Colado a Ston há inúmeros viveiros de ostras, uma especialidade da região.

Subindo mais um pouco e a paisagem, que já era linda do lado esquerdo do carro, vai ficar linda do lado direito também, com a chegada de uma cadeia de montanhas. Uma espécie de serra do mar croata, sem a mata atlântica, mas com escarpas pedregosas lindíssimas.

Dica: há um pequeno povoado ao norte de Ston chamado Omis. Ninguém dá muita bola para ele, até porque tem muita coisa para se ver na região. Mas a cidadezinha é impressionante: tem um rio caudaloso encostado numa montanha gigante e a cidade espalhada nas duas margens. Omis era antigo refúgio de piratas e uma agradável surpresa pelo caminho.

 

Split e o palácio favela

 

E um pouco mais ao norte de Omis está Split. Esta cidade é uma das tantas que surgiu em uma enseada calma, própria para porto. Até aí, nada de mais. Porém, um imperador romano, Diocleciano, natural da Dalmácia, resolveu que construiria ali seu palácio, onde passaria o resto da vida (nada bobo esse imperador).

E assim o fez. Um enorme palácio romano, cercado de muros, com templo a Júpiter e tudo o que tinha direito. E para lá foi depois de abdicar do império (foi o único imperador romano que fez isso). Porém, tanto ele quanto a mulher e a filha morreram, e o palácio ficou abandonado. O império romano sucumbiu, e as tribos bárbaras começaram a atacar os vilarejos costeiros. O povo que morava numa cidade vizinha fugiu e se escondeu nos subterrâneos palácio. E, com o tempo, começaram a ocupar o palácio e a modificá-lo. Então, o que era um palácio romano foi tomado e reurbanizado, numa espécie de favela dos séculos 5 e 6. Mas ei a favela está entre aspas, ok?

O resultado que se vê hoje é dos mais curiosos: um palácio dentro do qual estão casas, restaurantes, igrejas... e até pedaços do palácio original, em exibição como museu. E à frente de tudo isso, um boulevard elegante à beira mar.

 

Nenhum homem é uma ilha. Mas se fosse, seria uma dessas.

 

De Split saem os barcos grande barcos, que levam gente e carros para inúmeros pontos da costa croata, e cidades como Veneza e Ancona, na Itália. Mas de lá também saem os barcos que vão para as ilhas. E estas ilhas são algo à parte.

Existem inúmeras ilhas, mas as mais turísticas reúnem um ou vários dos itens abaixo:

- Cultura (edificações ou museus com séculos de existência)
- Belezas naturais (as ilhas em si são paisagens incríveis, com pedras alvas permeando o mar azul, um azul quase-turquesa e transparente)
- Baladas (no melhor estilo das melhores baladas mediterrâneas como Ibiza, Saint Tropez e Cia).

Combine os itens na proporção de sua preferência e escolha entre ilhas como Hvar, Brac ou Korcula, essa última terra natal de Marco Pólo (teoricamente um croata, mas muito identificado com a Itália, certamente).

 


Trufas e Vinhos

 

Saindo de Split em direção norte, a última parada na costa croata é a região da Ístria, já colada com a Itália. Com menos apelo para o veraneio, essa região se destaca pela gastronomia. Da Ístria saem excelentes vinhos, excelentes óleos de oliva e, durante os meses de setembro e outubro, algumas das melhores trufas brancas do mundo. A proximidade de cidades como Pula com Trieste e Veneza faz o combinado ficar tentador.

E já que comentamos da comida, vale a pena enfatizar a experiência gastronômica que se tem na Croácia. Na região costeira, os frutos do mar dominam, e quase todos os habitantes locais tem seu barquinho e pescam seus peixinhos. Nos restaurantes, o mais comum é se encontrar uma mesa de antepastos parecidos com as tapas espanholas ou os antipasti italianos e deles seguir para um peixe. Normalmente assado, inteiro, muito suave e saboroso. Também são famosos os risotos, como o negro, feito com polvo, cuja tinta colore o arroz.

A bebida oficial é sempre o vinho. Todo bom cidadão croata tem uma garrafa de vinho em casa, para servir aos amigos que chegam. É o equivalente do nosso cafezinho. O curioso é que eles raramente compram vinho ou óleo de oliva em supermercados. O mais comum é fazer em casa (sim, plantam a uva, amassam, fermentam...) ou comprar de amigos. As garrafas ficam para os turistas ... como você. (Dica vinhos do tipo Plavac são bem típicos e não são caros).

 

Estacionando o iate

 

Pertinho de Split está Trogir, outra cidade-porto em uma baía estupendamente linda. Aqui também, uma pequena cidade murada faz as vezes de centro histórico. Apenas um calçadão separa os muros da cidade das pedras do cais onde pasmem os chiques e famosos estacionam seus iates na temporada de verão. E, com dez passos estão passeando nas ruelas charmosas cheias de restaurantes, lojinhas e sorveterias porque a exemplo dos vizinhos italianos, o sorvete croata é especialmente saboroso, e um must de verão.

 

Subindo o morro

 

Até agora falamos da costa. Mas a Croácia tem um outro lado, o lado de cima, ou de dentro o lado centro-europeu. Mas antes de chegar a Zagreb, há uma parada que vale a pena, a meio caminho: o Parque Nacional de Plivitice.

Este parque está numa região florestal mais que tudo coníferas e pinheiros e possui inúmeros lagos. Até aí, nada de mais, porém em Plivitice os lagos estão em alturas diferentes, e se intercomunicam. Ou seja, há lagos e cachoeiras, formando um cenário inusitado, ao mesmo tempo bucólico e agitado. Os dois maiores lagos podem ser cruzados em barcos do parque, e o resto da trilha se faz a pé, em passarelas de madeira. O gran finale é uma cachoeira bem alta, que pode ser vista de baixo, para aumentar o impacto.



E no final, Zagreb

 

Se você não sabia, a capital da Croácia é Zagreb. Uma cidade tipicamente centro-europeia, com um jeitão que lembra Viena, ou Budapeste, ou Praga, mas sem um rio no meio.

Para quem subiu do litoral, de chinelão e toalha, Zagreb é outra coisa (e você vai precisar trocar de roupa): é uma cidade cosmopolita, vibrante, com belos edifícios e uma animada vida noturna (a roupa muda, o agito permanece).

Zagreb tem duas partes distintas, a cidade alta, que é justamente em cima dos morros, e a baixa, na parte plana. Na cidade alta está a Catedral de Santo Estévão, a sede do governo na praça de São Marcos (com um telhado coloridão famoso) e a Virgem da Porta de Pedra, uma imagem venerada por ter sobrevivido a um incêndio horroroso.

A parte baixa abriga o centro - de tudo: baladas, comércio, hotéis. Destaque para o belo prédio da Academia de Artes e Ciências e para a praça Josipa Jelacitá, de onde saem as principais ruas do centro e onde passa quase todo bonde da cidade.

Zagreb é cheio de moçada, e há inclusive as tribos urbanas, que você logo vai reconhecer numa caminhada.

O que, aliás, não é difícil os croatas são um povo extremamente amável e receptivo aos estrangeiros. Digamos que o lado mediterrâneo fala mais alto que o centro-europeu. Não é difícil ficar amigo de um croata que, em geral, é muito interessado em conhecer quem está visitando seu país. Adoram cantar, dançar, ouvir boa música. São muito religiosos, na maioria católicos. São apaixonados por futebol. Sabem até dar jeitinho. Lembra algum país que você conheça?